quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Vaticano faz declaração surpreendente sobre escândalos na ONU.

O Papa Francisco afirmou nesta quinta-feira que é preciso ter vergonha dos vários escândalos que aconteceram no seio da Igreja, durante sua homilia na tradicional missa matutina que realiza em sua residência, na Casa de Santa Marta. Sem citar a palavra pedofilia, a declaração foi feita no dia em que o Vaticano admitiu diante do Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança que há autores de abusos sexual contra crianças no clero.

- Mas...nos envergonhamos? Tantos escândalos que eu não quero mencionar isoladamente, mas que todos sabemos quais... Escândalos, nos quais alguns tiveram que pagar caro: E está bem! Se deve fazer assim... A vergonha da Igreja! - exclamou, sem falar diretamente sobre os casos de pedofilia, mas citando implicitamente a indenização paga às vítimas desses crimes por algumas dioceses, especialmente americanas. 

- Mas nos envergonhamos desses escândalos, dessas derrotas de padres, bispos, laicos?.

Nesta quinta-feira, o Vaticano foi submetidoa um difícil questionamento e criticado pelo fato de que a instituição violou o tratado que obriga os signatários a tomar todas as medidas apropriadas para proteger as crianças. Há alegações de que a Igreja, tentando preservar a sua reputação, permitiu a violação de milhares de crianças, protegendo padres pedófilos.

- Há abusadores entre membros das profissões mais respeitadas do mundo e, infelizmente, inclusive entre os membros do clero e outros funcionários da Igreja - reconheceu o arcebispo Silvano Tomasi, representante do Vaticano nas Nações Unidas em Genebra, na primeira vez que a hierarquia da Igreja Católica participa de audiência pública sobre abuso sexual de menores cometidos por padres em todo o mundo.

Tomasi ressaltou que o Vaticano vê cada criança como “inviolável - corpo, mente e espírito”. E que é importante saber o que aconteceu no passado para evitar que o problema se repita e para que a justiça seja feita. Ele afirmou ainda ao painel que gostaria de receber sugestões para implementar as exigências da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, na qual a Santa Sé é signatária desde 1990.

O Monsenhor Charles Scicluna, ex-promotor da Cúria em matéria de crimes sexuais, reconheceu que a Igreja havia sido lenta para responder à crise , mas disse que estava determinado a fazê-lo.

- A Santa Sé compreende - disse. - Não dizemos se é tarde demais ou não. Mas há certas coisas que devem ser feitas de forma diferente.

O painel do Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança acontece um pouco mais de um mês após a Santa Sé se recusar, em dezembro passado, a fornecer informações à organização a respeito de investigações internas sobre o crime.

‘Abuso é particularmente grave quando se trata de pessoas de confiança’

Tomasi reconheceu que a questão do abuso de crianças é particularmente grave quando se trata de pessoas que possuem grande confiança e são designadas a proteger o ser humano, incluindo sua saúde física, emocional e espiritual.

- Essa relação de confiança é fundamental e exige grande sentido de responsabilidade e respeito à pessoa que é servida - disse Tomasi.

O Vaticano apresentou um primeiro relatório à ONU em 1994, mas passou quase dez anos sem fazê-lo. Produziu um segundo somente em 2012, depois de receber críticas após as revelações em 2010 de casos de abuso sexual de crianças na Europa e em outros países.

Grupos de vítimas de abusos e organizações de direitos humanos se uniram para pedir ao Comitê da ONU que desafiasse a Santa Sé, fornecendo testemunho escrito de vítimas e provas que mostram a escala global do problema.

O Papa Francisco afirmou recentemente que lidar com o abuso é vital para a credibilidade da Igreja. No mês passado, ele anunciou uma comissão do Vaticano que seria criada para combater o abuso sexual de crianças na Igreja e oferecer ajuda às vítimas. Ele também reforçou as leis do Vaticano sobre o abuso de crianças, ampliando a definição de crimes contra menores
FONTE:
O Globo

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